bem-vinde, Elliot Page!

caê vasconcelos
3 min readDec 2, 2020

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sabe, Elliot, você já me fez chorar demais nessa vida. de alegria na sua linda trajetória enquanto ator e ativista LGBT+ e de tristeza com as histórias que você interpretou.

hoje não foi diferente. eu tava tendo um dia de bosta (2020, né), estressado (testosterona, né) e decepcionado. aí uma amiga querida me escreveu para contar que você transcendeu. tava uma chuva absurda na hora e eu chovi também: chorei lendo a sua carta.

a coragem e a forma que você nos contou, Elliot, nossa senhora. obrigado por isso e obrigado por tanto. quando você saiu do armário pela primeira vez, inspirou um monte de gente e deu esperança pra um monte de gente seguir firme. você sempre entendeu o significado das palavras resistência e representatividade. sempre nos representou de uma forma muito linda.

obrigado também por lembrar a cisgeneridade da violência cruel e transfóbica que perpassa as nossas vidas e por lembrar que são as pessoas trans negras as maiores vítimas fatais. não existe luta contra a transfobia sem a luta antirracista. nunca podemos deixar de pontuar isso.

eu sei como deve ter sido difícil para você transcender para o mundo. sempre é. crescemos em uma sociedade transfóbica, que invisibiliza nossas existências (principalmente para nós, homens trans, transmasculinos e transmasculines). não estamos nos espaços de poder e nem nos espaços de representação.

eu sei como deve ter sido difícil para você colocar tudo na balança: ver tudo o que você passou para chegar até aqui, tudo o que você conquistou, agradecer a pessoa que te trouxe até essa página e se despedir dela. sei que deve ter ponderado muito e é realmente um ato de coragem ser quem somos quando temos tanto a perder sendo a gente.

eu, que não tenho 2k de seguidores em nenhuma das redes, tive muito medo. eu, que sou um jornalista com 0,5% do reconhecimento que você tem, tive medo do que poderia perder mostrando para o mundo que era um cara trans. será que vão me dar a mesma credibilidade de antes? será que não vou colocar o meu trabalho e a minha profissão em risco?

eu não sei se essas foram as suas dúvidas, mas imagino que forma parecidas. lendo a sua carta eu lembrei de todas as sensações que senti escrevendo a minha (eu buscava atingir só os leitores do site que trabalho e as pessoas próximas, você atingiu o mundo).

eu acho que você tem ideia do peso também que é se dizer trans quando vivemos em uma sociedade que adora colocar na gente, na nossa individualidade, o peso de toda uma população.

a gente, que é trans, sabe que não estamos só aqui por nós, quando conseguimos algum espaço de poder, do mais mínimo até o mais gigante. a gente tá ali por nós, coletivamente, pelos que vieram antes e por todos que virão depois.

obrigado por ter tido coragem de nos contar sobre você, Elliot. você sempre foi uma inspiração imensa pra mim e agora é ainda mais. que seja leve a sua jornada daqui para frente. estamos com você. ♥

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caê vasconcelos
caê vasconcelos

Written by caê vasconcelos

apenas mais um rapaz trans e periférico | desde 2017 contando histórias na @pontejornalismo | escrevi o Transresistência 🌈

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